- Como obséquio de minha escravidão por amor -

29 de maio de 2015

Lamentação aos pés da Virgem

A última esperança



Ao soltar estes gemidos, quando minha alma,
resolvida já a voltar ao seu Esposo,
     chorava a sua desgraça,
o torpe amante me instigava ao prazer
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e a soltar as rédeas à devassidão:
"Nenhum prazer às de encontrar em morrer!
enquanto é tempo deixa-se ir docemente
     ao léu da corrente!"
Inclinava-me um pouco, e para logo
     a paixão me arrastava,
e, vencido, aos costumados grilhões
     os punhos me ligava.
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Imersa no tenebroso báratro dos vícios
minha lama sentia-se feliz nos seus delitos.
     E quanto a morte veio,
e nenhuma esperança de salvação eu tinha,
     quando asquerosa
reclamou o leito que lhe pertencia,
     de repente
não sei que suave murmúrio de mansa brisa
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soprou-me aos ouvidos do coração estas palavras:
"Oh! Quanto tempo te hás de revolver
assim enlodaçado neste charco?
Ergue-te, vem prostrar-se aos castos pés da Virgem!
     Se assim imundo
Ela te acolher com semblante amável,
não temas, pois ela lavará as tuas manchas."

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