Lamentação aos pés da Virgem
Sobre as ruínas da virgindade (I)
Infeliz de mim! Fugiste ligeira dos meus olhos,
porque a longa demora me retardara os passos.
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Eis que o feroz inimigo me lança brandos dardos
e consegue do peito arrancar-me a couraça.
Arrombando os portais mal vigiados,
saltando as trincheiras
arrebentou-me os tesouros da alma e do corpo.
Já tarde, muito tarde
entrei a contemplar minhas tristes ruínas:
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"Ai! Foi-se, exclamei, a flor da virgindade!"
Lançando contra o peito os dois punhos cerrados,
chorei a negra ruína com estes tristes gemidos:
"Ai de mim! Minha trincheira...
Quem a derrocou tão irreparavelmente?
Que malvado me forçou as portas cerradas da alma?
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Que fera tão cruel, ó minha herdade bela,
te derribou a sebe?
Que monstro destruiu tua muralha?
Agora, sem muros, és presa de qualquer ladrão,
és covil aberto
a quantas feras a ti se acolherem...
Por que, supremo Pai, me trouxeste à luz do mundo?
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Por que me lançaste do materno seio
ao chão duro da terra?
Oxalá minha vida se tivesse desfeito
ao despontar a existência,
e teus olhos não me vissem neste estado horrendo!
Oxalá me achasse morte e fosse a última da vida
a hora que houvesse de contemplar
a ruína da pureza.
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Mais suave seria sucumbir cruelmente
e ir sofrer todas as penas do inferno horrendo,
ó Pai amantíssimo, imensa bondade,
poder infinito, chama do eterno amor,
do que ultrajar a tua majestade
com minhas obras nefandas,
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e executar meus crimes hediondos
diante de teus olhos.
Ó alma infeliz, disforme, adultera, asquerosa,
torpe e agrilhoada a um corpo imundo,
expulsa o torpor, rasga o canceroso peito,
revolve até o fundo a chaga de teus crimes!
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Quem, ai! desgraçada
te roubou a formusura da divina imagem?
Quem te maculou de imunda lama as faces?
Acaso és tua mesma, a quem outrora
lavou a límpida torrente do batismo,
e te fez do peito um cristal de neve?
670
Tu, a que o Espírito de Deus purificou
no seu cadinho,
para dourá-la em labareda de ouro fino?
Foi a ti que o celestial Esposo
uniu a si em aliança indissolúvel,
ao te lavar os crimes em suas águas férteis?
A fidelidade, ó alma, onde a deixaste?
Onde perdeste o anel da aliança?
e o amor, aquele amor, que juraste honrar eternamente,
onde o manchaste?
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Quem, ai! desgraçada
te roubou a formusura da divina imagem?
Quem te maculou de imunda lama as faces?
Acaso és tua mesma, a quem outrora
lavou a límpida torrente do batismo,
e te fez do peito um cristal de neve?
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Tu, a que o Espírito de Deus purificou
no seu cadinho,
para dourá-la em labareda de ouro fino?
Foi a ti que o celestial Esposo
uniu a si em aliança indissolúvel,
ao te lavar os crimes em suas águas férteis?
A fidelidade, ó alma, onde a deixaste?
Onde perdeste o anel da aliança?
e o amor, aquele amor, que juraste honrar eternamente,
onde o manchaste?
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