- Como obséquio de minha escravidão por amor -

17 de novembro de 2015

Vida da Virgem no Templo

A glória da humildade



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     Mas, que sonho eu, estulto?...
tu desdenhas o fausto e do coração amante fazes
     o escrínio da humildade.
Gozas em ser a menor, em obedecer a todas:
fora disso, nada no mundo é grande, em teu conceito.
Sabes que Deus derriba os soberbos de seus tronos
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e aos humildes exalta do monturo.
Ainda que nada ignores, sofres que te ensinem
obedecer, ser desprezada, ser corrigida
     eis a tua felicidade.
Por isso, sepultas no fundo do peito
teus régios segredos e disfarças
o ardor divino que se expande no teu rosto.
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mas não o consegues, pois dificilmente
     se encobre o fogo:
a luz da labareda transpira pelas frestas
É divino e resplendor que brilha em tuas faces:
     tuas palavras o calam,
tuas obras o proclamam às companheiras.
     Elas em seus colóquios
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afirmam que és santa e feliz mais que todas.
Cravando em teus olhos os seus cheios de afeto,
que manso espelho de bondade fitam!
     conversar-te é um prazer,
um prazer contemplar o teu semblante:
chamam-te sua rainha e sua maior glória!
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Tu, entretanto, julgas-te indigna de tanta honra
e até ao excesso te envileces a teus olhos.
     De dia para dia,
vais adornando de novas virtudes tua alma,
o verdadeiro templo e tabernáculo de Deus.
Modelo de castidade e níveo pudor
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é o teu corpo, do qual há de brotar
o nobre corpo, unido à divindade.
Apesar desta torrente transbordante
     que te inunda a alma,
vives persuadida de que teu coração é um vazio!
Sendo, por graça, a mais sublime das criaturas,
julgas que, de justiça, só o último lugar te cabe.
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É tanta a graça que estua a tua alma,
e tão bem te cerras ao fundo do peito as labaredas!
Ou é o véu da soberba que nos vela os sentidos
e nos torna cegos diante de sol tão fúlgido!

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