- Como obséquio de minha escravidão por amor -

6 de novembro de 2015

Vida da Virgem no Templo

O deslumbramento do poeta



     Projetara percorrer
os numerosos passos da tua existência
para traçar por ela caminho reto à minha:
885
     mas, eis-e distanciado
pelo número e valor de tuas virtudes:
o meu espírito, cheio de avidez, desfalece,
ante perfeições tão sublimes, esgotado!
Ainda que muitas princesas reúnam
     suas prendas inúmeras,
seu domínios e bens de toda espécie,
tu ergues sobre todas a fronte de rainha:
890
nem todas em globo são capazes de atingir
     a grandeza de teus tesouros.
São inúmeros os latifúndios de teu coração:
recebeu inumeráveis e contínuas riquezas
     e não se abarrotam.
Teu corpo imaculado está cingido
     de casta robustez:
tua face é espelho a refletir as leis do céu.
895
     Bem é que assim refulja
quem de Deus há de ser altar e templo,
a quem nem a terra, nem o mar, nem o espaço
     podem abarcar.
     Ah! Senhora, eu pasmo
ante tua grandeza fulminado:
tu, futura mãe daquele que é teu eterno Pai!
Tua glória se levanta a tais alturas, que, vencido,
900
me faz morrer nos lábios o teu canto.
Atado a teu colar, preso nos grilhões desse amor,
a mim basta-me jazer eternamente a teus pés.
Já que, depois de muito esperar por mim,
me arrebataste, na luz do teu olhar bondoso,
     para o templo de Deus,
905
e quiseste ajuntar-me aos companheiros
     de meu Senhor Jesus,
e sofres que viva em tua santa morada:
aqui, aqui p'ra sempre me acalente tua bondade,
e teu braço me afaste da ruína
     com o laço tríplice dos votos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário